Nunca ninguém descreveu a luz e as cores da Provence tão bem como Van Gogh:
“A luz aqui é requintada. Quando as folhas estão frescas, é um verde rico, como raramente vemos no Norte. Mesmo quando tudo fica seco e empoeirado, a paisagem não perde a sua beleza, pois assume então tons de vários matizes: verde-azulado, amarelo-dourado, rosa-dourado e, ao mesmo tempo, bronze, cobre, em suma, desde amarelo cidra até uma cor amarela escura como um monte de milho debulhado, por exemplo, e tudo isto combinado com azul – do mais profundo azul real da água até ao azul dos miosótis, um azul cobáltico, particularmente brilhante – verde-azulado e verde-violeta”
Vincent van Gogh. Carta para a sua irmã Wilhelmina van Gogh, de 22 Junho de 1888 em Arles, Provence.
Já todos estivemos na Provence mesmo antes de lá ir. Já lá estivemos nos quadros de Paul Cezanne, de Van Gohg, Renoir, Matisse, Monet e até Picasso.
E é por isso que toda aquela profusão de cores e cheiros nos é estranhamente familiar e há toda uma sensação de sacrilégio enquanto se pisa o chão morno da Provence. Mas, se é verdade que a viagem até ao sul de França já valeria a pena se fosse “apenas” para apreciar o Mont-Sainte-Victoire, o Verdon, os girassóis e os campos de trigo, ou até para comer uma baguete ou um croissant quente, foi o roxo dos campos de lavanda que nos levou até ao sul desta vez.
E qual é a resposta rápida para a pergunta que se impõe “onde estão os campos de Lavanda mais bonitos do mundo?”. Valensole.
A resposta só pode ser Valensole. É ali que se encontram os maiores e os mais cuidados campos. As plantas alinhadas em linhas perpendiculares em campos que sobem e descem no horizonte como ondas revoltas. Uma composição de tal modo perfeita que parece que a aldeia e os campos envolventes foram desenhados por e para fotógrafos.
Mesmo a Lavanda de Valensole é muito mais fotogénica do que a Lavanda normal. Há dois tipos de Lavanda na Provence: a doméstica, que é pequena e tem flores mais densas e depois há a selvagem, que é um arbusto grande mas com flores mais esparsas. Mas em Valensole não plantam nenhuma delas.
Plantam Lavendim, que é um cruzamento com o que há de melhor entre as duas. Não tão grande como a selvagem mas maior que a doméstica e com as flores densas desta, o que a torna absolutamente perfeita para fotografar.
Já estamos de volta a casa mas às vezes é como se ainda não tivéssemos regressado. A roupa ainda cheira a lavanda e a nossa pele ainda brilha tisnada pelo sol do Sul. E é nestes regressos que me vem à memória algo que Terry Pratchett dizia: Porque é que nos vamos embora? Para que possamos voltar. Para que vejamos o sítio de onde partimos com novos olhos e novas cores.
E as pessoas aqui também te passem a ver de forma diferente. Porque voltar ao sítio de onde se saiu não é o mesmo que não ter partido. E não é. Agora, quando o vento sopra do sul, trás um cheiro suave a lavanda fresca.
Dicas:
1- A melhor altura para fotografar os campos vai desde finais de Junho a finais de Julho, que é, claro está, quando os campos estão floridos.
2- A melhor hora para fotografar é das 6 às 8 da manhã e das 19:30 às 22:00 horas.
3- Apesar de os agricultores deixarem os fotógrafos entrarem à vontade nos campos é importante respeitar essa generosidade. Vimos muitas pessoas a apanhar as flores como se se tratassem de flores selvagens e não o fruto do trabalho e o ganha-pão de alguém.
4- Quanto a dicas fotográficas: é claro que quando se pensa em espaços amplos o que vem à mente é usar uma grande angular. Mas não subestimem o potencial da Zoom. Muitas das nossas fotos foram feitas com uma Zoom. Com isso conseguimos que os arbustos ficassem com uma aparência de maior proximidade uns com os outros, as flores mais densas, as encostas mais acentuadas e conseguimos assim fazer um “crop” de pessoas ou carros.
5- Das 8 às 19:30 não dá para fotografar (com qualidade) mas dá para visitar alguns sítios à volta. A L´ Occitane, por exemplo, tem a sua fábrica, loja e museu pertinho de Valensole. As Gorges du Verdon estão a 45 minutos e foram um dos passeios favoritos pela praia e pelo passeio de barco por dentro da Gorge.
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