Miguel Sousa Tavares escreveu em tempos esta frase enigmática: “Na verdade, o deserto não existe: se tudo à sua volta deixa de existir e de ter sentido, só resta o nada. E o nada é o nada: conforme se olha, é a ausência de tudo, ou, pelo contrário, o absoluto.”
Sempre vi o deserto como o absoluto. O silêncio ensurdecedor, a luz que encandeia a meio do dia mas dourada como o mel ao pôr e ao nascer do sol , os bichos que só se mostram aos pacientes, aos que sabem olhar. O vento que se levanta e para sem aviso, caprichoso. E as dunas que dançam ao som do tal silêncio ensurdecedor e do tal vento caprichoso.
E foi esse o grande propósito desta ida à Namíbia: ver de perto esse nada tornado absoluto. Conhecer o Kalahari e o Namib, o deserto mais antigo do mundo. Ver de perto que há muitos desertos no deserto. Há a planície de areia, a paisagem tipo lunar, o deserto pontilhado de pequenas montanhas pedregosas e as dunas vermelhas incandescentes. E na Namíbia há um pouco de cada um destes desertos a cada 100 km. Numa sequência incessante e inebriante.
Mas claro que o pedaço de deserto mais desejado é o famoso Sossusvlei e os seus majestosos 300 Km de comprimento por 140 km de largura. Fica no Namib- Naukluft Parque e é aí que moram algumas das maiores dunas do mundo.
Desde a famosa duna 45 à Big Daddy, as duas com mais de 300 metros de altura. São 60 Km de estrada, desde a entrada do parque, emoldurados por centenas de dunas com um final em apoteose, 5 km de estrada de areia (só acessível a veículos 4×4 ou através do shuttle) e meia hora a pé, por entre as dunas, para culminar num dos maiores espetáculos da natureza, o Deadvlei, o Nara Vlei e o Hidden Vlei.
Estes “Vlei” formaram-se com as águas do rio Tsauchab. A cada 5/ 10 anos a magia acontece e o rio forma-se do nada com as chuvas, atravessa o Sossusvlei até ficar retido nas dunas e, durante cerca de 4 semanas, forma pequenos lagos nos tais Vlei até desaparecer por mais uns quantos anos.
A última vez que o rio surgiu foi em 2011 por isso, estatisticamente, o milagre estará para acontecer a qualquer momento.
O Deadvlei era até há 900 anos o destino final do rio Tsauchab mas, desde então, a configuração das dunas envolventes foi impedindo que o rio lá chegasse e é agora um dos lugares mais secos do mundo.
Tão seco que as árvores, com mais de 1000 anos e mortas desde que o rio deixou de lá chegar, simplesmente não conseguem entrar em decomposição e permanecem espalhadas pela paisagem, testemunhas de dias mais verdejantes.
É uma das paisagens mais bonitas do mundo. Espero que gostem…
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Dicas para visitar o Sossusvlei:
– Vindo de Windhoek são cerca de 300Km até Sesriem, a pequena aldeia que é a porta de entrada do Sossusvlei, e para quem vier de Sul, como nós, fica a 500 Km de Luderitz (quase todo o caminho é feito em areia e gravilha e aconselho vivamente a estrada C27 e depois a D707, mais longa mas incrivelmente cénica. Vale cada uma das 8 horas de caminho);
– Para quem acampar optem pelo Sesriem Camp e quem não acampar fiquem no hotel que existe dentro do parque, o Sossus Dune Lodge. A vantagem é que podem entrar 1 hora antes e ficar até 1 hora depois de quem dorme fora. Faz toda a diferença para fotografar;
– Os últimos 5 Km até ao Deadvlei são de areia e só acessíveis a quem tiver um 4X4 mas, a boa notícia é que existe um shuttle. Tentem ir o mais cedo possível porque depois da parte acessível de carro ou shuttle há ainda meia hora a pé e a partir das 9 da manhã o calor é infernal;
– O Sesriem Canyon é uma boa opção para passar uma ou duas horas. Fica a 2 Km de Sesriem;
– Fiquem pelo menos dois dias para poderem apreciar as diferenças entre o nascer e por do sol.
2 Responses
olá!!!! O Sossusvlei na Namíbia, vi que seu filho está nas fotos, vou com minha filha de 2 anos e 10 meses, vc acha q rola essa viagem? Obrigada
Olá! A Namíbia é provavelmente o país mais tranquilo e seguro para viajar com crianças. Usando as suas palavras, acho que rola sim 🙂