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Os Amish do Montenegro ou os atalhos nem sempre são boa ideia

Indíce do Artigo

Como eu sei que estavam cheios de saudades da saga dos Balcãs, cá vai a 5.ª parte para estrear em grande, vá, em mais ou menos grande, o novo look do blog:

Tínhamos ficado no ainda recente e independente Montenegro. O Montenegro é um país pequenino e muito “visual”. Muita paisagem de cortar a respiração, muito verde e azul turquesa e não tanto museus ou grandes monumentos. E atravessar o país junto à costa é uma das mais bonitas road trip que se podem fazer. Vale mesmo, mesmo a pena. Existe estrada sempre junto à costa mas também existem ferries para quem quiser encurtar distâncias.

Pouco depois de atravessarmos a fronteira tivemos a bela cidade de Herceg Novi a dar-nos as boas vindas. Demos um pequeno passeio pela praças, até ao forte Kanli-Kula e a torre do relógio e seguimos depois em direção à zona que ansiávamos mesmo ver, o cartão de visita do Montenegro, a famosa baía de Kotor. Começámos com Perast. As visitas e vistas mais marcantes desta de Perast são as duas pequenas ilhas ao largo da vila. Uma é a Ilha de São Jorge e a outra, maior, é a de Nossa Senhora da Rocha. Enquanto a primeira é obra da natureza, esta última foi e continua a ser obra do homem. Todos os anos, a 22 de Julho, os habitantes, numa grande festa, remam até à ilha levando pedras com eles para aí as depositar. As ilhas são muito bonitas enquanto acessório visual da baía mas não há muito que ver nelas e por isso optámos por as apreciar de longe.

Seguimos depois por Tivat e dormimos num estacionamento grátis em Kotor: N42º 25´ 15´´ E18º 45´ 54´´ (quem é amiga, quem é?), para na manhã seguinte visitarmos as muralhas e o centro da cidade bem cedinho. Não subimos mesmo até ao fim das muralhas porque são mesmo “muuiiiiito” grandes e a meio já dava para ter umas boas vistas da baía. Depois de darmos um passeio pelas ruelas dentro das muralhas continuámos depois o nosso caminho pelo Monte Lovcen (que dá o nome ao país) Budva, Sveti Stefan e o Lago Skadar e Murici. Esta descrição assim toda sequencial e chatinha é mesmo para vos facilitar o roteiro quando lá forem.

E foi ali, na beira do lago Skadar, que decidimos que ainda seguiríamos nesse dia até à Albânia. Segundo o GPS existia um atalho que em 42km nos levaria, sempre junto ao lago, até à fronteira de Sukobin em vez dos 100km até à mais usual fronteira de Hani i Hotit. E pensámos, bem, isto é espetacular… não sei porque é que as outras pessoas vão por um caminho mais longo e sem vistas para o lago… e rimos, rimos e rimos. Mas não por muito tempo, como devem imaginar. Mal entrámos na estrada, descobrimos que afinal era um caminho de terra batida pontilhado com vestígios de alcatrão com apenas uma faixa de rodagem. Como somos uns otimistas, ou parvos, não sei bem, pensámos que se calhar era só assim no início e que mais adiante já seria uma estrada dita normal. Pois, claro que sim… o caminho tinha umas vistas fantásticas mas não dava para as apreciar tal o risco de resvalar e cair para o abismo e iria ser mesmo assim todo o percurso. No meio do azar ainda tivemos alguma sorte e apenas 3 carros se cruzaram connosco no caminho que levou três longas e penosas horas a fazer. E, felizmente, todos os carros conseguiram fazer marcha atrás até encontrar sítio onde os dois veículos conseguissem passar. Menos mal.

Ao fim de 25Km passámos finalmente por uma pequena aldeia de 20 ou 30 habitantes e, de repente, parecia que tínhamos entrado numa máquina do tempo e tínhamos ido parar a uma comunidade amish do início do século passado. E não, não era  daquelas todas modernaças que passam no TLC. Até as toucas e os vestidos compridos que as mulheres usavam eram semelhantes. Já pesquisei a tentar descobrir que comunidade era aquela mas nem a aldeia consigo encontrar. Vinham todos à rua à passagem lenta da autocaravana e olhavam-nos com estupefação mas sem um sorriso ou qualquer outra reação amigável. Um dos rapazes olhava-nos de olhos esbugalhados e tinha baba a escorrer pelo canto da boca. Juro. Comecei a achar que aquilo não era a sério e que tínhamos aterrado no cenário de um filme do M. Night Shyamalan quando, à saída da aldeia, o cemitério, em terreno aberto, tinha duas campas abertas a fumegar e vários fake amish em volta com gadanhas na mão. Olhei para o relógio e tínhamos pouco mais de uma hora antes de começar a anoitecer. O bebé dormia atrás sossegadinho como se adivinhasse que não era boa altura para acordar e eu só pensava que não queria ser apanhada pela noite naquele fim do mundo. Tínhamos de conseguir chegar à fronteira rápido.

A noite começava a cair quando o GPS nos mandou fazer uma curva oblíqua por um caminho de cimento com um declive bastante acentuado. Olhámos um para o outro surpreendidos e mentalmente enviei 1 kg de más vibrações para o tipo que colocou os mapas do Montenegro no GPS. Saí para ver se seria possível a caravana passar por ali e virei-me para o homem com um ar confiante digno de um óscar: claro que sim, é tranquilo… Descemos e atravessámos uma aldeia cheia de primos dos amish da aldeia anterior. Por várias vezes a caravana esteve quase a ficar assente no chão por causa da combinação curvas e declive mas, não sei como, alguns kilómetros depois apareceu-nos no nada a fronteira albanesa. E, quando o polícia na fronteira nos perguntou o que vínhamos fazer nesse belo país, a Albânia, respondemos felizes e aliviados: passar a noite de Natal no vosso país, pois então.

E foi assim que levámos o Magn(o)ífico a passar a noite de Natal na Albânia.

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