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Ainda há minas na Bósnia e Herzgovina, mas poucas

Indíce do Artigo

E lá seguimos para o Burundi. Não foi nada. Era só para ver se estavam atentos… seguimos para a Bósnia e Herzgovina. Mas antes de partirmos para a Bósnia, ainda demos um voltinha pela cidade muralhada e pela catedral de Split, na Croácia, onde tínhamos ficado a dormir, se bem se lembram. Existe estacionamento bem pertinho do centro e a cidade é suficientemente pequenina e plana para se ver a pé.

Só o nome do país, Bósnia e Herzgovina, e a memória das imagens da guerra, não tão longínqua assim, já davam um friozinho na barriga. Por várias vezes me interroguei se seria realmente seguro levar uma criança, se as pessoas seriam agressivas, enfim, se não tinha endoidado de vez ao ter colocado a Bósnia no roteiro. Mas, mais uma vez, a realidade provou-me que não se pode dar muita importância ao que aparece na comunicação social. O mundo está cheio de pessoas boas. As más são a exceção. A verdade é que, em centenas de viagens e 68 países visitados, só estive em perigo uma vez e, a bem da verdade, porque me “pus a jeito”, desleixei-me com regras básicas de segurança e podia ter corrido muito mal. Como dizia, a Bósnia revelou-se uma agradável caixinha de surpresas e cheia de gente de sorriso fácil. O bebé Magno recebia pãezinhos na padaria, doces no supermercado (que eu guardava quando os ofertantes não estavam a ver, claro) colo e mimos em todo o lado. Claro que ainda se veem uns quantos sinais a alertar para a possibilidade de exitirem minas, nas zonas de montanha particularmente, mas é só uma questão de ter bom senso e não andar a passear nesses sítios e seguir caminho.

minas, minas everywhere

Já a caminho de Mostar, uma das mais importantes cidades Bósnias, onde chegámos já de noite (N43º 18´30´´ E17º 49´17´´) tivémos a feliz ideia de parar na aldeia de Pocitelj, pouco depois da fronteira. Uma pequena aldeia presépio com um delicioso castelo em ruínas e ruelas empedradas. É sem dúvida um excelente sítio para uma pausa no caminho.

Pocitelj
vistas do castelo de Pocitelj

Mas era a cidade de Mostar que tínhamos muita curiosidade de conhecer. Muito à conta do sem número de vezes que passava no Canal História a saga da reconstrução da Stari Most, a velha ponte otomana, do sec XVI, que une as duas partes da cidade e que foi destruída em 1993 durante a guerra da Bósnia. A ponte é de facto muito fotogénica e deu para tirar todas as fotografias que queríamos. Apenas não tivemos a sorte de ver os famosos e arriscados mergulhos dos locais, da ponte para o rio Neretva. Estava muito frio, até para os Bósnios…

Vista Mostar, continuámos para Sarajevo, onde chegámos ao princípio da tarde. Foi em Sarajevo que deu para sentir pela primeira vez que estávamos de facto no leste europeu. O cinza como cor dominante, os edifícios austeros da era comunista, o metro decrépito e ferrugento, as pessoas com chapéus de pelo. Ainda se encontram muitos edifícios com buracos de balas, mas todos os anos são recuperados uns quantos e espera-se que em breve tais imagens façam parte do passado. E claro, há ainda o famoso hotel Holiday Inn, onde estavam alojados os jornalistas e de onde eram filmados os bombardeamentos à cidade que enchiam os noticiários da noite. Dormimos não muito longe do hotel, N 43º 50´38.0´´ E 18º 20´14.9´´, num estacionamento atrás do Mac Donald´s (free wifi!!!) e ao lado de uma lavagem de carros automática. Deve ser alguma psique coletiva Bósnia lavar o carro a meio da noite. Foi um corropio de carros a ser esfregados noite adentro mas tirando isso é um lugar seguro para dormir…

De manhã, pela fresquinha, fomos visitar o túnel da vida ou da esperança. Para quem não sabe o que é e está com preguiça de googlar, este túnel passa por baixo do aeroporto de Sarajevo e foi o que permitiu a sobrevivência dos civis e tropas Bósnias durante o cerco à cidade pelas forças Sérvias. Foi construído em segredo e com entrada e saída por insuspeitas casas civis, permitindo a passagem de 3000 a 4000 pessoas por dia, alimentos e material de guerra. Durante a visita dá para assistir a um impressionante vídeo com filmagens da construção e da passagem das pessoas. E não há como não nos espantarmos com todo aquele sofrimento ter sido tão recente. Parece uma visita algo pesada mas faz parte.

Buracos de Balas
é assim que se tapam buracos de balas na Bósnia ou como um andaime não deve ser

De volta à Croácia ainda passámos e passeámos pelo nevado Parque Nacional Sutjeska, com passagem pela Republika Srpska. Uma região com uma confusa semi autonomia face ao resto da Bósnia Herzgovina. O primeiro grande sinal de que se entrou na Republika Srpska é que tudo passa a estar escrito com o alfabeto cirílico. A república tem a sua própria constituição, o seu próprio presidente, assembleia, ministros, tribunais e supremo tribunal, alfândega, forças policiais, correios e até bandeira própria. No entanto está inscrito na constituição que a capital da Republika Srpska é Sarajevo. Uma confusão, portanto.

Chegámos já de noite a Dubrovnik e descobrimos que todos os camping estavam encerrados para férias. E quando digo todos eram mesmo todos os dez ou doze parques de campismo. Restou-nos dormir à porta do Camping Solitudo e visitar a cidade pela manhã. Não há que enganar, a cidade é mesmo tão bonita como costuma aparecer nas fotografias. Ocre, ensolarada e fustigada pelo mar. Não admira que tenha sido escolhida para várias cenas de Game of Thrones. Passeia-se pelas muralhas, percorrem-se as igrejas, lojinhas e cafés e começa-se a pensar que se calhar é hora de nos pormos a caminho…

E fechava-se assim o ciclo da Croácia e iniciava-se o périplo pelo ainda recente e liliputeano Montenegro. Independente da Sérvia desde 2006 através de um pacífico referendo. Mas disso falaremos noutro post, já não são horas de falar dos amish do Montenegro, do rapaz que se babava ou das campas a fumegar…

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